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Tinta na calçada

"Licença, eu sou estudante de jornalismo e..."
"Queria saber se pode fazer uma entrevista comigo? (risos)"

     Dentre os incontáveis artistas de ruas que fazem parte do cenário da "mais paulista das avenidas", pode parecer um trabalho difícil se destacar entre o Ctrl+C e Ctrl+V dos produtos, como acontece com os artesões das humanamente conhecidas (se é que você me entende) "miçangas". Isso não é tarefa árdua para Humberto.

 

      "Se eu 'tivesse' trabalhando numa loja, eu não estaria ganhando o que eu ganho agora e estaria trabalhando para empresários e não veria para onde vai meus produtos. Eu sentia que alguém precisava fazer algo por São Paulo e eu estou fazendo por mim e pela cidade de São Paulo. Já que eu comecei, eu vou até o final com isso. Se é um trabalho que traduz o que as pessoas sentem por São Paulo, é muito mais digno que eu esteja presente para ver as pessoas se emocionarem."


     O ex-arquiteto, pintor renegado e venerado designer de camisetas é um personagem que facilmente se encaixaria no livro "Fama e Anonimato" de Gay Talese. Famoso para os usuais pedestres do labor suado que move a cidade e para os estudantes de jornalismo, para os quais concede entrevistas. Anônimo para os usuais pedestres do labor suado que move a cidade e para os estudantes de jornalismo, os que não lhe pedem entrevistas. São muitos os que "conhecem" Humberto Poubel, o "cara que vende camisetas de São Paulo", mas não sabem seu nome ou sua história ou até mesmo o motivo que o leva a pintar São Paulo em tecidos de roupa.

     "São Paulo é assim, te faz suar no começo para depois te abrir as portas"


     Natural do Espirito Santos, Humberto estudou Artes no Rio de Janeiro e voltou para a cidade natal onde fazia sucesso com seus quadros. Quanto veio para São Paulo, suas pinturas não tiveram o reconhecimento esperado e então, o pintor se arriscou no artesanato, trazendo seus desenhos da cidade para camisetas lisas.
     As pecas de roupas não são exclusivamente da bela e caótica metrópole. Personagens como o Pequeno Príncipe, o Rango - camaleão verde da Disney - e as figuras da trilogia Star Wars, como o Mestre Yoda estão entre a arquitetura paulistana. Sua formação em arquitetura, carreira que não seguiu, colabora para a precisão dos detalhes dos prédios e catedrais retratadas. Todos os desenhos são escolhidos pelo artista e os personagens tem profunda relação com o que o autor das peças de roupa acredita ou gosta.

     Humberto sabe o impacto que seu tralho causa e afirma que é o amor por São Paulo que leva os pedestres pararem para admirar ou até comprar uma camiseta. "As pessoas têm um tamanho fascínio pela cidade onde vivem, mas nunca admitem isso."
     O grafiteiro e também músico foi recusado e trocou de emprego várias vezes, mas, hoje, não se arrepende de sua jornada e diz amar puramente o que faz e a reação das pessoas ao seu ofício, dedicação e paixão.

     E é com incrível humildade e orgulho que Humberto responde: "Todo artista deve estar disponível a conceder uma entrevista. Afinal, o artista é uma figura pública."

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